sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

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Grécia Antiga

Grécia Antiga
Grécia Antiga é o termo geralmente usado para descrever, em seu período clássico antigo, o mundo grego e áreas próximas (como Chipre, Anatólia, sul da Itália, da França e costa do mar Egeu, além de assentamentos gregos no litoral de outros países —; como o Egipto.
Não existe uma data fixa ou sequer acordo quanto ao período em que se iniciou e terminou a Grécia Antiga. O uso comum situa toda história grega anterior ao império romano como pertencente a esse período, mas os historiadores[carece de fontes?] usam o termo Grécia Antiga de modo mais preciso. Alguns escritores[carece de fontes?] incluem o período minóico e o período micênico (entre 1600 e 1100 a.C.) dentro da Grécia Antiga, enquanto que outros[carece de fontes?] argumentam que essas civilizações eram tão diferentes das culturas gregas posteriores que, mesmo falando grego, devem ser classificadas à parte.
Tradicionalmente, a Grécia Antiga abrange desde os primeiros Jogos Olímpicos em 776 a.C. (alguns historiadores estendem o começo para 1000 a.C.) até à morte de Alexandre, o Grande em 323 a.C. O período seguinte é o do helenismo.
Estas datas são convenções dos historiadores e alguns autores[carece de fontes?] chegam mesmo a considerar a Grécia Antiga como um período presente até o advento do cristianismo, no terceiro século da era cristã. Os antigos gregos autodenominavam-se helenos, e a seu país chamavam Hélade[carece de fontes?]. Nunca chamaram a si mesmos de gregos nem à sua civilização Grécia, pois ambas essas palavras são latinas, tendo sido-lhes atribuídas pelos romanos.



O antigo mundo grego, por volta de 550 a.C..
A área ocupada pela antiga civilização grega não se identifica completamente com a área da Grécia contemporânea. Além disso, não existiu um estado politicamente unificado entre os Gregos antigos.
Situada na porção sul da Península Balcânica, o território da Grécia continental caracteriza-se pelo seu relevo montanhoso. A cordilheira dominante é a dos Montes Pindo que separa a costa oriental, banhada pelo Mar Egeu da costa ocidental, banhada pelo Mar Adriático.
Na Grécia central, entre o Golfo de Corinto e o Mar da Eubéia, situa-se a Beócia, cuja principal cidade na antiguidade era Tebas. Os Montes Citéron separavam a Beócia da península da Ática, onde se encontram as cadeias do Himeto, do Pentélico e do Parnes.
No Peloponeso distinguiam-se também várias regiões. Ao centro, situa-se a Arcádia, uma planície rodeada por montanhas. A Lacônia situa-se na região sudeste, compreendendo o vale do Rio Eurotas, delimitado a oeste pelo Monte Taígeto e a oriente pelo Monte Párnon. No sudoeste do Peloponeso está a Messénia.
[editar] Grécia insular
No Mar Egeu encontram-se várias ilhas, que recebem o nome genérico de Espórades. As Espórades compreendem dois grupos, o das ilhas do norte e as ilhas do sul. As Cíclades, que receberam esta designação por se disporem em círculo em torno da ilha de Delos, são ilhas de pequena dimensão. Do grupo de ilhas do Dodecaneso (Dhodhekánisos, "doze ilhas", apesar de serem cerca de 160), destaca-se a ilha de Rodes.
[editar] História
Ver artigo principal: História da Grécia


O Partenon, na Acrópole de Atenas.
Os gregos originaram-se de povos que migraram para a península balcânica em diversas ondas, com início no terceiro milénio a.C.. Entre os invasores, merecem destaque os pioneiros: os aqueus, os jônicos, os dóricos e os eólios —; todos indo-arianos provenientes da Europa Oriental. As populações invasoras são em geral conhecidas como "helênicas", pois sua organização de clãs fundamentava-se, no que concerne à mística, na crença de que descendiam do deus Heleno, filho de Deucalião e Pirra. A última das invasões foi a dos dóricos, já em fins do segundo milénio a.C..
[editar] Períodos
• Pré-Homérico (1900-1100 a.C) — Período antes da formação do homem grego e da chegada cretense e fenícia. Nessa época, estavam se desenvolvendo as civilizações Cretense ou Minóica (ilha de Creta) e a Micênica (continental).
• Homérico (1100-700 a.C) — Quando acontece a chegada de Homero, que foi considerado marco na história por suas obras, Odisséia e Ilíada. Período que iniciou a ruralização e comunidade gentílica (comunidade na qual um ajuda o outro na produção e colheita). Só plantavam o que iriam consumir (quando a terra não estava fértil saíam em busca de terra).
• Obscuro (1150-800 a.C.) — Chegada dos aqueus, dóricos, eólios e jônicos; formação dos génos; ausência da escrita.
• Arcaico (800-500 a.C.) — Formação da pólis; colonização grega; aparecimento do alfabeto fonético, da arte e da literatura além de progresso econômico com a expansão da divisão do trabalho do comércio, da indústria e processo de urbanização. É neste período onde os vários modelos das pólis vão se constituindo, definindo assim a estrutura interna de cada cidade-Estado.
• Clássico (500-338 a.C.) — O período de esplendor da civilização grega, ainda que discutível. As duas cidades consideradas mais importantes desse período foram Esparta e Atenas, além disso outras cidades muito importantes foram Tebas, Corinto e Siracusa. Neste momento a História da Grécia é marcada por uma série de conflitos externos (Guerras Médicas) e interno (Guerra do Peloponeso).
• Helenístico (338-146 a.C.) — Crise da pólis grega, invasão macedônica, expansão militar e cultural helenística, a civilização grega se espalha pelo Mediterrâneo e se funde a outras culturas.
[editar] Civilização minóica
Ver artigo principal: Civilização minóica


Pintura mural em Cnossos.
A civilização minóica foi uma civilização existente nas ilhas do Mar Egeu entre 2200 a.C. e 1400 a.C.. Esta civilização foi descoberta pelo arqueólogo inglês Arthur Evans, tendo o seu foco principal na ilha de Creta.
A civilização minóica teria surgido a partir de uma fusão dos habitantes de Creta com populações que se fixaram nesta ilha vindas da Ásia Menor[carece de fontes?]. Os Minóicos tiveram como principal actividade económica o comércio e criaram uma civilização que tinha em grandes palácios os seus centros administrativos. Em torno dos palácios existiam casas, não sendo os palácios amuralhados. Os palácios apresentavam sistemas de iluminação e esgotos e estavam decorados com belas pinturas[carece de fontes?].
Os Minóicos já conheciam a escrita (Linear A e Linear B) e destacaram-se pelo trabalho do ouro e das gemas, bem como por uma cerâmica decorada com motivos marítimos e geométricos.
Suas terras mais férteis estavam na parte esquerda da ilha, onde se encontravam as principais cidades como Cnossos (capital) e Kato-Zacros. Apesar dos seus palácios terem sofrido com os terremotos que atingiam a região, os Minóicos prosperaram até 1400 a.C. A decadência desta civilização parece ter sido o resultado de ataques de inimigos, entre os quais se encontrariam os Micénicos.
Vale a pena destacar o papel da mulher na sociedade minóica. Ao contrário das futuras cidades, como Atenas e Esparta, onde a mulher não tinha direitos políticos e era vista apenas como uma reprodutora, a mulher Minóica era livre, podia adquirir propriedades e ser independente.
[editar] Civilização micénica
Ver artigo principal: Civilização micênica


Máscara funerária da civilização micénica (Máscara de Agamemnon).
Os Minóicos viriam a influenciar a história da Grécia através dos Micénicos, que adoptam aspectos da cultura minóica. O nome "micénico" foi criado por Heinrich Schliemann com base nos estudos que fez no sítio de Micenas, no nordeste do Peloponeso, onde outrora se erguia um grande palácio e uma das principais cidades além de Tirinto, Tebas e Esparta. Julga-se que os Micénicos se chamariam a si próprios Aqueus. A sua civilização floresceu entre 1600 e 1200 a.C.
Os Micénicos já falavam grego. Não tinham uma unidade política, existindo vários reinos micénicos. À semelhança dos Minóicos o centro político encontrava-se no palácio, cujas paredes também estavam decoradas com frescos[carece de fontes?].
Para além de praticarem o comércio, os Micénicos eram amantes da guerra e da caça. Por volta de 1400 a.C. os Micénicos teriam ocupado Cnossos, centro da cultura minóica.
Por volta de 1250 a.C. o mundo micénico entra em declínio, o que estaria relacionado com a decadência do reino hitita no Próximo Oriente[carece de fontes?], que teria provocado a queda das rotas comerciais. Sua decadência envolveu também guerras internas[carece de fontes?]. É provável que a destruição da cidade de Tróia, facto que se teria verificado entre 1230 a.C. e 1180 a.C., possa estar relacionado com o relato literário de Homero na Ilíada, escrita séculos depois.
[editar] Idade das Trevas
Ver artigo principal: Idade das Trevas
Dá-se o nome de Idade das Trevas ao período que se seguiu ao fim da civilização micénica e que se situa entre 1100 a.C e 750 a.C. Durante este período perdeu-se o conhecimento da escrita, que só seria readquirido no século VIII a.C. Os objectos de luxo produzidos durante a era micénica não são mais fabricados neste período. A designação atribuída ao período encontra-se relacionada não apenas com a decadência civilizacional, mas também com as escassas fontes para o conhecimento da época.
Outro dos fenómenos que se verificou durante este período foi o da diminuição populacional, não sendo conhecidas as razões exactas que o possam explicar. Para além disso, as populações também se movimentam, abandonando antigos povoados para se fixarem em locais que ofereciam melhores condições de segurança.
[editar] Período Arcaico
Ver artigo principal: Período Arcaico
O Período Arcaico tem como balizas temporais tradicionais a data de 776 a.C., ano da realização dos primeiros Jogos Olímpicos, e 480 a.C., data da Batalha de Salamina. A Grécia era ainda dividida em pequenas províncias com autonomia, em razão das condições topográficas da região: cada planície, vale ou ilha é isolada de outra por cadeias de montanhas ou pelo oceano.
A origem das cidades gregas remonta à própria organização dos invasores, especialmente dos aqueus, que se agrupavam nos chamados ghené (ghenos, no singular). Os ghené eram essencialmente comunidades tribais que cultuavam seus deuses na acrópole (local elevado). A vida econômica dessas grandes famílias era, a princípio, baseada em laços de parentesco e cooperação social. A terra, a colheita e o rebanho pertenciam à comunidade. Havia uma liderança política na figura do pater, um membro mais velho e respeitado. Diversos ghené agrupavam-se em fratarias, e diversas fratarias em tribos.
Com a recuperação econômica após o interlúdio dórico, a população grega cresceu além da capacidade de produção das terras cultiváveis[carece de fontes?]. Diante desse desequilíbrio, e procurando garantir melhores condições de vida, alguns grupos teriam se destacado, passando a manejar armas e a ter domínio sobre as melhores terras e rebanhos. Esses grupos acumularam riqueza, poder e propriedade como resultado da divisão desigual das terras do ghené, considerando-se os melhores — aristoi, em grego. Assim, foram diferenciando-se da maioria da população e dissolvendo a vida comunitária do ghené. Essas transformações sociais estavam na origem da formação da pólis, a cidade grega. A partir de 750 a.C. os gregos iniciaram um longo processo de expansão, firmando colônias em várias regiões, como Sicília e sul da Itália, no sul da França, na costa da Península Ibérica, no norte de África e nas costas do Mar Negro. Entre os séculos VIII e VI a.C fundaram aí novas cidades, as colônias, as quais chamavam de apoíkias—; palavra que pode ser traduzida por nova casa.
São muitas as causas apontadas pelos historiadores para explicar essa expansão colonizadora grega. Grande parte dessas causas relaciona-se a questões sociais originadas por problemas de posse de terra e dificuldades na agricultura[carece de fontes?].
As melhores terras eram dominadas por famílias ricas (os aristoi, também conhecidos por eupátridas - bem nascidos). A maioria dos camponeses (georgoi) cultivava solos pobres cuja produção de alimentos era insuficiente para atender às necessidades de uma população em crescimento. Uma terceira classe, que não possuía terras, dedicar-se-íam, mais tarde, ao comércio; eram chamados de thetas, marginais. Para fugir à miséria, muitos gregos migravam em busca de terras para plantar e de melhores condições de vida, fundando novas cidades. Assim, no primeiro momento, a principal atividade econômica das colônias gregas foi a agricultura. Posteriormente, muitas colônias transformaram-se em centros comerciais, dispondo de portos estratégicos para as rotas de navegação.
A Hélade começa a dominar lingüística e culturalmente uma área maior do que o limite geográfico da Grécia. As colônias não eram controladas politicamente pelas cidades que as fundavam, apesar de manterem vínculos religiosos e comerciais com aquelas. Predominava entre os gregos sempre a organização de comunidades independentes, e a cidade (cada uma desenvolveu seu próprio sistema de governo, leis, calendário e moeda) tornou-se a unidade básica do governo grego.
[editar] Consequências da colonização
Socialmente, a colonização do Mar Mediterrâneo pelos gregos resultou no desenvolvimento de uma classe rica formada por mercadores (o comércio internacional desenvolvera-se a partir de então) e de uma grande classe média de trabalhadores assalariados, artesãos e armadores. Culturalmente, os gregos realizaram intercâmbios com outros povos.
Na economia, a indústria naval se desenvolveu, obviamente, passando a consumir crescente quantidade de madeira das florestas gregas. O padrão de vida na Grécia melhorou acentuadamente (o tamanho médio das residências encontradas por arqueólogos aumentou 5 vezes)[carece de fontes?]. A expectativa de vida aumentou em vários anos (assim como a altura média, o que indica um melhor padrão de vida)[carece de fontes?]. A população aumentou de 600.000 no século VIII a.C. para em torno de 9 milhões, no século IV a.C.[carece de fontes?]. E tudo isso fez com que no século IV, a Grécia já possuísse a economia mais avançada do mundo[carece de fontes?] e com um nível de desenvolvimento extremamente raro para uma economia pré-industrial. Apesar disso, houve concentração fundiária, em algumas cidades essa concentração levou a revoltas e tiranias, em outras a aristocracia manteve o controle graças a legisladores inclementes.
[editar] Período Clássico
[editar] Guerras Medo-Persas
História (ocidente)

Pré-História

Idade Antiga
Antiguidade clássica

Antiguidade tardia

Idade Média
Alta Idade Média

Baixa Idade Média

Idade Média Plena

Idade Média Tardia

século XV

Idade Moderna

século XVI

século XVII

século XVIII

Idade Contemporânea

século XIX

século XX

século XXI

O Período Clássico estende-se entre 480 a.C. e 359 a.C. e é dominado por Esparta e Atenas. Cada um destas pólis desenvolveu o seu modelo político (a oligarquia militarista em Esparta e a democracia aristocrata em Atenas).
Ao nível externo verifica-se a ascensão do Império Persa Aqueménida quando Ciro II conquista o reino dos Medos. O Império Aqueménida prossegue uma política expansionista e conquista as cidades gregas da costa da Ásia Menor. Atenas e Erétria apoiam a revolta das cidades gregas contra o domínio persa, mas este apoio revela-se insuficiente já que os Jónios são derrotados: Mileto é tomada e arrasada e muitos Jónios decidem fugir para as colónias do Ocidente. O comportamento de Atenas iria gerar uma reacção persa e esteve na origem das Guerras Médicas (490-479 a.C.).
Em 490 a.C. a Ática é invadida pelas forças persas de Dario I, que já tinham passado por Erétria, destruindo esta cidade. O encontro entre Atenienses e Persas ocorre em Maratona, saldando-se na vitória dos Atenienses, apesar de estarem em desvantagem numérica.
Dario prepara a desforra, mas falece em 485, deixando a tarefa ao seu filho Xerxes I que invadiu a Grécia em 480 a.C. Perante a invasão, os Gregos decidem esquecer as diferenças entre si e estabelecem uma aliança composta por 31 cidades, entre as quais Atenas e Esparta, tendo sido atribuída a esta última o comando das operações militares por terra e pelo mar. As forças espartanas lideradas pelo rei Leónidas I conseguem temporariamente bloquear os Persas na Batalha das Termópilas, mas tal não impede a invasão da Ática. O general Temístocles tinha optado por evacuar a população da Ática para Salamina e sob a direcção desta figura Atenas consegue uma vitória sobre os Persas em Salamina. Em 479 a.C. os gregos confirmam a sua vitória desta feita na Batalha de Platéias. A frota persa foge para o Mar Egeu, onde em 478 a.C. é vencida em Mícale.
[editar] Guerra do Peloponeso


Mapa do Império ateniense por volta de 450 a.C.
Com o fim das Guerras Médicas, e em resultado da sua participação decisiva no conflito, Atenas torna-se uma cidade poderosa, que passa a intervir nos assuntos do mundo grego. Esparta e Atenas distanciam-se e entram em rivalidade, encabeçando cada um delas uma aliança política e militar: no caso de Esparta era a Liga do Peloponeso e no caso de Atenas a Liga de Delos. Esta última foi fundada em 477 a.C. e era composta essencialmente por estados marítimos que encontravam-se próximos do Mar Egeu, que temiam uma nova investida persa. O centro administrativo da liga era a ilha de Delos.
Para poder atingir o seus objectivos a Liga precisava possuir uma frota. Os seus membros poderiam contribuir para a formação desta com navios ou dinheiro, tendo muitos estados optado pela última opção. Com o tempo Atenas afirma-se como o estado mais forte da Liga, facto simbolizado com a transferência do tesouro de Delos para Atenas em 454 a.C.. Os Atenienses passam a considerar qualquer secessão da Liga como um acto de traição e punem os estados que tentam fazê-lo. Esparta aproveita este clima para realizar a sua propaganda.
As relações entre as duas póleis atingem o grau de saturação em 431 a.C., ano em que se inicia a guerra. As causas para esta guerra, cuja principal fonte para o seu conhecimento é o historiador Tucídides, são essencialmente três. Antes do conflito Atenas prestara ajuda a Córcira, ilha do Mar Jónio fundada por Corinto (aliada de Esparta), mas que era completamente independente. Atenas também decretara sanções económicas contra Mégara, justificadas com base em uma alegada transgressão de solo sagrado entre Mégara e Atenas. Para além disso, Atenas realiza um bloqueio naval à cidade de Potideia, no norte da Grécia, sua antiga aliada que se revoltara e pedira ajuda a Corinto[carece de fontes?].
Esparta lança um ultimato a Atenas: deve levantar as sanções a Mégara e suspender o bloqueio a Potideia. Péricles consegue convencer a Assembleia a rejeitar o ultimato e a guerra começa. Os Atenienses adoptam a estratégia proposta por Péricles, que advogava que a população dos campos se concentrasse no interior das muralhas de Atenas; os alimentos e os recursos chegariam através do porto do Pireu. Contudo, a estratégia teve um resultado imprevisível: a concentração da população, aliada a condições de baixa higiene provocou a peste que atingiu ricos e pobres e o próprio Péricles. A guerra continuou até 422 a.C. ano em que Atenas é derrotada em Anfípolis. Na batalha morrem o general espartano Brásidas e o ateniense Cléon, ficando o ateniense Nícias em condições de estabelecer a paz (Paz de Nícias, 421 a.C.). Apesar do suposto cessar das hostilidades, entre 421 e 414 as duas póleis continuam a combater, não directamente entre si, mas através do seus aliados, como demonstra a ajuda secreta dada a Argos por Atenas. Em 415 a.C. Alcibíades convenceu a Assembleia de Atenas a lançar um ataque contra Siracusa, uma aliada de Esparta, em expedição que se revelou um fracasso. Com a ajuda monetária dos Persas, Esparta construiu uma frota, que foi decisiva para vencer a guerra. Na Primavera de 404 a.C. Atenas rende-se.
Esse foi um tempo em que o mundo grego prosperou, com o fortalecimento das cidades-Estado e a produção de obras que marcariam profundamente a cultura e a mentalidade ocidental.
Mas foi também o período em que o mundo grego viu-se envolvido em longas e prolongadas guerras.
[editar] Ascensão da Macedónia


Filipe II da Macedónia.
O reino da Macedónia, situado a norte da Grécia, emerge em meados do século IV a.C. como nova potência. Os macedónios que não falavam o grego e não adoptaram o modelo político dos gregos, eram vistos por estes como bárbaros. Apesar disso, muitos nobres macedónios aderiram à cultura grega, tendo a Macedónia sido responsável pela difusão da cultura grega em novos territórios.
Durante o reinado de Filipe II da Macedónia o exército macedónio adopta técnicas militares superiores, que aliadas à diplomacia e à corrupção, vão permitir-lhe a dominar as cidades da Grécia[carece de fontes?]. Nestas formam-se partidos favoráveis a Filipe, mas igualmente partidos que se opõem aos Macedónios. Em 338 a.C. Filipe e o seu filho, Alexandre, o Grande, derrotam uma coligação grega em Queroneia, desta forma colocando a Grécia continental sob domínio macedónio. Filipe organiza então a Grécia em uma confederação, a Assembleia de Corinto, procurando unir os gregos com um objectivo comum: conquistar o Império Persa como forma de vingar pela invasão de 480 a.C[carece de fontes?]. Contudo, Filipe viria a ser assassinado por um nobre macedónio em Julho de 336 a.C., tendo sido sucedido pelo seu filho Alexandre.
Alexandre concretizou o objectivo do pai, através da vitória nas batalhas de Granico, Isso e Gaugamela, marchando até à Índia. No regresso, Alexandre era senhor de um vasto império que ia da Ásia Menor ao Afeganistão, passando pelo Egipto. Alexandre faleceu de forma prematura (possivelmente de malária[carece de fontes?]) na Babilónia em 323 a.C.
[editar] Período Helenístico
Ver artigo principal: Helenismo
Após a morte de Alexandre, os seus generais lutaram entre si pela posse do império. As cidades gregas aproveitam a situação para se livrarem do domínio macedónio, mas foram subjugadas por Antípatro na Guerra Lamíaca (323-322).
Nenhum dos generais de Alexandre conseguiu reunir o império sob o seu poder. Em vez disso, nasceram vários reinos que seguiriam percursos diferentes: Antígono fundou um reino que compreendia a Macedónia, a Grécia e partes da Ásia Menor; Seleuco, estabeleceu um vasto reino que ia da Babilónia ao Afeganistão e Ptolemeu torna-se rei do Egipto.
[editar] Sociedade e organização política
São inúmeras as diferenças entre a Grécia moderna e a Grécia Antiga. O mundo grego antigo estendia-se por uma área muito maior do que o território grego atual. Além disso, há outra diferença básica. Hoje, a Grécia constitui um país, cujo nome oficial é República Helênica. Já a Grécia Antiga nunca foi um estado unificado com governo único. Era um conjunto de cidades-estado independentes entre si, com características próprias embora a maioria das cidades-estado tivessem seus sistemas econômicos parecidos, excluindo-se de Esparta.
[editar] A cidade-estado grega
Desde o século VIII a.C., formaram-se pela Grécia Antiga diversas cidades independentes. Em razão disso, cada uma delas desenvolveu seu próprio sistema de governo, suas leis, seu calendário, sua moeda. Essas cidades eram chamadas de pólis, palavra grega que costuma ser traduzida por cidade-estado.
De modo geral, a pólis reunia um agrupamento humano que habitava um território cuja extensão geralmente variava entre 1.000 e 10.000 km²[carece de fontes?]. Compreendia uma área urbana e outra rural. Atenas, por exemplo, tinha 2.500 km², Siracusa tinha 5.500 km² e Esparta se estendia por 7.500 km²[carece de fontes?]. A área urbana freqüentemente se estabelecia em torno de uma colina fortificada denominada acrópole (do grego akrós, alta e pólis, cidade). Nessa área concentrava-se o centro comercial e a manufatura. Ali, muitos artesãos e operários produziam tecidos, roupas, sandálias, armas, ferramentas, artigos em cerâmica e vidro. Na área rural a população dedicava-se às atividades agropastoris: cultivo de oliveiras, videiras, trigo, cevada e criação de rebanhos de cabras, ovelhas, porcos e cavalos. Este agrupamento visava atingir e manter uma completa autonomia política e social para com as outras poleis gregas, embora existisse muito comércio e divisão de trabalho entre as cidade gregas. Atenas por exemplo, importava 80%[carece de fontes?] de seus alimentos, incluindo 100%[carece de fontes?] de seus cereais e exportava azeite, chumbo, prata, bronze, cerâmica e vinho. No mundo grego encontramos diversas pólis, como, por exemplo, Messênia, Tebas, Mégara e Erétria.
A maioria das cidades-estado gregas era pequena, com populações de aproximadamente 20 mil habitantes[carece de fontes?] ou menos na sua área urbana. Mas as principais cidades eram bem maiores, no século IV a.C., essas cidades eram Atenas, com estimados 170 mil habitantes[carece de fontes?] em sua área urbana, Siracusa, com aproximadamente 150 mil habitantes[carece de fontes?], e Corinto, com mais de 100 mil habitantes[carece de fontes?]. Esparta tinha apenas 40 mil habitantes[carece de fontes?] em sua área urbana, sendo uma cidade-estado pouco urbanizada em relação às outras.
Atenas era a maior e mais rica cidade da Grécia Antiga durante os séculos V e IV a.C. Existem relatos da época que reportam um volume comercial externo (soma das importações e exportações das cidades do império ateniense) da ordem de 180 milhões de dracmas[carece de fontes?] áticos, valor duas vezes superior ao orçamento do Império Persa na mesma época[carece de fontes?].
[editar] Esparta
Ver artigo principal: Esparta
[editar] Cultura da Grécia Antiga
Ver artigo principal: Cultura da Grécia Antiga
Os gregos tinham conflitos e diferenças entre si, mas muitos elementos culturais em comum. Falavam a mesma língua (apesar dos diferentes dialetos e sotaques) e tinham religião comum, que se manifestava na crença nos mesmos deuses. Em função disso, reconheciam-se como helenos (gregos) e chamavam de bárbaros os estrangeiros que não falavam sua língua e não tinham seus costumes, ou seja, os povos que não pertenciam ao mundo grego (Hélade).
[editar] Educação em Atenas
Em Atenas, apesar das mulheres também serem educadas para as tarefas de mãe e esposa, a educação era tratada de outra forma, pois até mesmo nas classes mais pobres da sociedade ateniense encontrava-se homens alfabetizados. Eles eram instruídos para cuidarem não só da mente como também do corpo, o que lhes dava vantagem na hora da guerra, pois eram tão bons guerreiros quanto eram estrategistas.
Homero: Poeta grego que foi quem escreveu duas importantes obras:Ilíada e Odisséia que serviram de grande importância para o estudo da grécia antiga.
Ilíada falava sobre as aventuras de um heroi da guerra de Tróia
Odisséia fala sobre a aventura de ulisses em sua volta ao lar
Até hoje existem váris discussões sobre este poeta grego por exemplo:será que ele existiu mesmo ou é só uma lenda?

Ver também: Paidéia
[editar] Jogos Olímpicos


Reconstrução de Olímpia na Antiguidade.
Um exemplo de atividade cultural comum entre os gregos foram os Jogos Olímpicos. A partir de 776 a.C., de quatro em quatro anos, os gregos das mais diversas cidades reuniam-se em Olímpia para a realização de um festival de competições. Esse festival ficou conhecido como Jogos Olímpicos. Os jogos olímpicos eram realizados em honra a Zeus (o mais importante deus grego) e incluíam provas de diversas modalidades esportivas: corridas, saltos, arremesso de disco, lutas corporais. Além do esporte havia também competições musicais e poéticas.
Os Jogos Olímpicos eram anunciados por todo o mundo grego dez meses antes de sua realização. Os gregos atribuíam tamanha importância a essas competições que chegavam a interromper guerras entre cidades (trégua sagrada) para não prejudicar a realização dos jogos. Pessoas dos lugares mais distantes iam a Olímpia a fim de assistir aos jogos. Havia, entretanto, proibição à participação das mulheres, seja como esportistas, seja como espectadoras.
Os atletas que participavam das competições eram respeitados pelos gregos em geral. O prêmio para os vencedores era apenas uma coroa feita com ramos de oliveira colhidos num bosque consagrado a Zeus. Mas a sua glória era imensa. As cidades recepcionavam os vitoriosos com festas e homenagens[carece de fontes?]. Poetas, como Píndaro, faziam poemas em sua homenagem, e o governo erguia-lhes estátuas.
Os Jogos Olímpicos da Idade Antiga foram celebrados até 393 d.C., quando o imperador romano Teodósio, que era cristão, mandou fechar o templo de Zeus em Olímpia, para combater cultos não-cristãos. Quinze séculos depois o educador francês Pierre de Fredy, o barão de Coubertin (1836-1937), empreendeu esforços para restaurar os Jogos Olímpicos. Sua "causa" obteve simpatia e adesão internacionais. Em 1896, foram realizados em Atenas os primeiros Jogos Olímpicos da época contemporânea. As atuais Olimpíadas, também realizadas de quatro em quatro anos, reunindo atletas de diversos países do mundo, procuram preservar o ideal de unir os povos por meio do esporte.
[editar] Arte da Grécia Antiga
Ver artigo principal: Arte da Grécia Antiga


Estátua de Zeus.
Um dos mais expressivos monumentos do período antigo é o Partenon, templo com colunas dóricas, construído entre 447 e 438 a.C. na acrópole de Atenas, e dedicado à padroeira da cidade, Athenea Párthenos. A construção foi projetada pelos arquitetos Calícrates e Ictinos, e é comandada por Fídias. Suas linhas arquitetônicas serviram de inspiração para a construção de muitos outros edifícios em todo o mundo.
[editar] Legado da Grécia Antiga
Ver artigo principal: Legado Grego
A cultura da Grécia Antiga é considerada a base da cultura da civilização ocidental. A cultura grega exerceu poderosa influência sobre os romanos, que se encarregaram de repassá-la a diversas partes da Europa. A civilização grega antiga teve influência na linguagem, na política, no sistema educacional, na filosofia, na ciência, na tecnologia, na arte e na arquitectura moderna, particularmente durante a renascença da Europa ocidental e durante os diversos reviveres neoclássicos dos séculos XVIII e XIX, na Europa e Américas.
Conceitos como cidadania e democracia são gregos, ou pelo menos de pleno desenvolvimento na mão dos gregos. Qualquer história da Grécia Antiga requer cautela na consulta a fontes. Os historiadores e escritores políticos cujos trabalhos sobreviveram ao tempo eram, em sua maioria, atenienses ou pró-atenienses, e todos conservadores[carece de fontes?]. Por isso se conhece melhor a história de Atenas do que a história das outras cidades; além disso, esses homens concentraram seus trabalhos mais em aspectos políticos (e militares e diplomáticos, desdobramentos daqueles), ignorando o que veio a se conhecer modernamente por história econômica e social. Toda a história da Grécia antiga precisa dar atenção à condução parcial pelas fontes.

Exercícios



FILOSOFIA- 1001 e 2001
Em seu diálogo A República, Platão descreve na célebre Alegoria da Caverna a situação de homens aprisionados desde a infância no fundo de uma caverna e de tal forma que só podem olhar para uma parede em frente sobre a qual se projetam as sombras de bonecos colocados atrás destes homens. Um destes homens se liberta, sai da caverna e aos poucos se acostuma com a luminosidade externa, começa a distinguir as coisas e por fim descobre o Sol como a fonte da luz. Ele se dá conta, então, da ilusão representada pelas sombras que ele e os outros tomavam como realidade. Exultante com sua descoberta, ele retorna à caverna para relatar sua experiência, que é assim narrada por Sócrates:
“Suponha que esse homem volte à caverna e retome o seu antigo lugar. Desta vez, não seria pelas trevas que ele teria os olhos ofuscados, ao vir diretamente do Sol? E se ele tivesse que emitir de novo um juízo sobre as sombras e entrar em competição com os prisioneiros que continuaram acorrentados, enquanto sua vista ainda está confusa, seus olhos ainda não se recompuseram, enquanto lhe deram um tempo curto demais para acostumar-se com a escuridão, ele não ficaria ridículo? Os prisioneiros não diriam que, depois de ter ido até o alto, voltou com a vista perdida, que não vale mesmo a pena subir até lá? E se alguém tentasse retirar os seus laços, fazê-los subir, você acredita que, se pudessem agarrá-lo e executá-lo, não o matariam?”.
Platão parece estar descrevendo a situação do “filósofo” quando este pretende esclarecer os demais seres humanos sobre o que ele pensa ser a verdade.
A partir desta narrativa de Platão, discorra sobre qual o papel do “filósofo” no mundo contemporâneo.
GABARITO: Na alegoria da caverna, as idéias principais estão nas oposições: “mundo sensível” – “mundo inteligível”, “opinião” – “ciência”, “aparência” – “realidade” e outras análogas. O “filósofo” é representado por alguém que se liberta das “aparências” e tenta explicar a “realidade” para os outros, mas é hostilizado e ameaçado. O candidato poderá então discorrer sobre a condição contemporânea do “filósofo” ou do “sábio” e de seus conflitos com os outros seres humanos.
2a QUESTÃO:

Na célebre pintura A Escola de Atenas, o artista renascentista italiano Rafael reuniu os principais nomes da filosofia grega, tendo ao centro do quadro as figuras de Platão e de Aristóteles. Na pintura, Platão aponta com sua mão para o alto e Aristóteles aponta para baixo. Deste modo, com estes gestos, Rafael estava ilustrando a distinção entre a filosofia de Platão e a filosofia de Aristóteles. Indique e discorra sobre a principal diferença entre a filosofia de Platão e a de Aristóteles.
GABARITO: Na pintura de Rafael, o gesto de Platão aponta para o “mundo ideal” e o de Aristóteles para o “mundo real”. A interpretação de Rafael é evidentemente esquemática. O candidato poderá expor suas próprias concepções sobre as diferenças entre Platão e Aristóteles.
3a QUESTÃO:
A Filosofia Medieval buscou a síntese entre a razão grega (a filosofia) e a religião cristã (a fé). Por isto, seu tema central foi a relação entre razão e fé. De acordo com Étienne Gilson, historiador da Filosofia Medieval, “Uma dupla condição domina o desenvolvimento da filosofia tomista: a distinção entre razão e fé, e a necessidade  de sua concordância. Todo o domínio da filosofia pertence exclusivamente à razão; isso significa que a filosofia deve admitir apenas o que é acessível à luz natural e demonstrável apenas por seus recursos. A teologia baseia-se, ao contrário, na revelação, isto é, afinal de contas, na autoridade de Deus. Os artigos de fé são conhecimentos de origem sobrenatural, contidos em fórmulas cujo sentido não nos é inteiramente penetrável, mas que devemos aceitar como tais, muito embora não possamos compreendê-las. Portanto, um filósofo sempre argumenta procurando na razão os princípios de sua argumentação; um teólogo sempre argumenta buscando seus princípios primeiros na revelação”.
A partir da perspectiva apresentada discorra sobre a Filosofia Medieval.
GABARITO: A partir da polaridade “razão – fé” o candidato poderá discorrer sobre as relações entre “filosofia” e “teologia”, “razão” e “revelação” ou “natural” e “sobrenatural”, como idéias importantes no pensamento europeu medieval.
4a QUESTÃO
Descartes tinha plena consciência do seu papel inovador na filosofia e na ciência. No Discurso sobre o Método ele diz: “Percebi que era necessário, no curso de minha vida, destruir tudo integralmente e começar de novo, dos fundamentos, se era meu desejo estabelecer nas ciências qualquer coisa de permanente e com chances de durar”. Ele considerava que o coroamento da reconstrução da filosofia seria o mais perfeito e definitivo sistema moral. Mas, até que alcançasse o conhecimento completo de todas as ciências, era preciso contentar-se com o que ele denominou de “moral provisória”, que lhe permitisse ao menos se guiar em suas ações da vida quotidiana. A terceira regra desta “moral provisória” é:
“procurar sempre antes vencer a mim próprio do que à fortuna [ou destino], e de antes modificar os meus desejos do que a ordem do mundo; e, em geral, a de acostumar-me a crer que nada há que esteja inteiramente em nosso poder, exceto os nossos pensamentos, de sorte que, depois de termos feito o melhor possível no tocante às coisas que nos são exteriores, tudo em que deixamos de nos sair bem é, em relação a nós, absolutamente impossível. E só isso me parecia suficiente para impedir-me, no futuro, de desejar algo que eu não pudesse adquirir, e, assim, para me tornar contente”.
Comente esta concepção e discorra sobre seu significado no mundo contemporâneo.
GABARITO: O candidato poderá discorrer sobre o contraste entre uma “moral definitiva” e uma “moral provisória” e tentar abordar o provisório como uma das características da cultura contemporânea. Poderia, ainda, discorrer sobre a dupla alternativa ética de “mudar o mundo” ou “mudar a si próprio”.
5a QUESTÃO
O filósofo alemão Immanuel Kant, no século 18, assim define o “Esclarecimento” ou “Iluminismo”:
“O Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade pela qual ele mesmo é responsável. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu próprio entendimento sem a imposição de outrem. O próprio homem é responsável por sua menoridade quando a causa desta não for a falta de entendimento, mas a falta de decisão e coragem de conduzir-se sem a imposição de outrem. Tenha coragem para usar o seu próprio entendimento! Eis o lema do Esclarecimento”.
(Immanuel Kant, “Resposta à Pergunta: Que é ‘Esclarecimento’ ?”)
Com base no texto de Kant, comente a importância na vida de cada um de nós de “ter coragem para usar o seu próprio entendimento”.
GABARITO: Aproveitando a sugestão do texto de Kant, o candidato poderá discorrer sobre os desafios do “amadurecimento” do ser humano e sobre a coragem necessária para se pautar pelo próprio entendimento ou razão e deixar de obedecer cegamente às imposições de outrem.
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A prova de filosofia do vestibular UFRJ 2008-2009
Postado em Filosofia no Vestibular em 09/11/2008 por Gustavo Bertoche
A UFRJ divulgou a prova e o gabarito da primeira etapa do vestibular 2009.
Na prova de filosofia, a primeira questão é do tipo sorvete-na-testa. Bastava ser capaz de reconhecer em que sentido o enunciado “isto não é um cachimbo” é verdadeiro e em que sentido é falso, na pintura de Magritte.
A segunda questão é de lógica da argumentação. É necessário saber reconhecer um argumento dedutivo e um indutivo para resolvê-la. O nível da questão é extremamente básico, pois nem chegou a envolver a distinção entre premissas e conclusão.
A terceira questão é essencialmente de raciocínio verbal. O item (a) é respondido a partir da última proposição do texto; o item (b) deve ser respondido a partir justamente da pressuposição cética que afirma que o conhecimento pode ser enganoso.
Finalmente, a quarta questão é interpretativa. No item (a), é necessário compreender que o texto leva a uma resposta contrária à de Platão: segundo o trecho, a “voz corrente” afirma que praticar uma injustiça e não ser punido é melhor do que agir conforme a lei. Portanto, agir conforme a lei é um bem menor do que praticar injustiça e não ser punido. No item (b), é necessário raciocinar a partir do texto: se praticar uma injustiça e não ser punido traz um bem maior do que a injustiça não punida que se sofre, então seria vantajoso tolerar o mal sofrido em troca de poder praticar uma injustiça que traria ainda mais ganhos.
A prova não foi difícil, mas exigiu um nível de concentração maior do que a do ano passado. A partir dessa segunda prova de filosofia, começa a surgir um padrão: a UFRJ parece valorizar questões de interpretação e raciocínio verbal.
De qualquer modo, os alunos que se prepararam para a prova de Filosofia certamente tiveram um resultado melhor. Agora, estamos atentos à prova da UFF, dia 16.
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Projeto Filosofia UFRJ 2009
Postado em Filosofia no Vestibular em 07/09/2008 por Gustavo Bertoche
Ofereço aos meus alunos a apostila preparada para o projeto Vestibular Filosofia UFRJ 2009. Ela possui o conteúdo programático da prova de Filosofia, textos que cobrem o programa e exercícios.
Para baixar o arquivo PDF, clique no link: projeto-ufrj-2008-2009-8-aulas
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Edital UFRJ 2009: novo curso no Grupo 6
Postado em Filosofia no Vestibular em 27/07/2008 por Gustavo Bertoche
Foi liberado recentemente o edital do vestibular UFRJ 2009.
No que interessa ao blog, que é o Grupo 6, que tem prova de Filosofia na 1a Etapa, uma novidade: o curso de Relações Internacionais.
Assim, do Grupo 6 participam os cursos de: Ciências Sociais, Direito, Filosofia, História, Música (todas as carreiras) e Relações Internacionais.
A prova de Filosofia do vestibular 2007/2008 foi fácil, por ser novidade. Neste ano, esperamos um grau de dificuldade maior.
O conteúdo programático permanece o mesmo: básico e genérico. Não indica claramente autores ou problemas, mas questões. O modelo da prova passada deve ser seguido: trechos de textos clássicos seguidos de enunciados que envolvem conhecimentos fundamentais de história da filosofia e de conceitos da tradição filosófica e capacidade de interpretação de texto.
 
Confira a página do vestibular da UFRJ: http://www.vestibular.ufrj.br/2009/home.html
Baixe o edital diretamente: http://www.vestibular.ufrj.br/downloads/Concurso_2009_Edital_45.pdf
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A prova de Filosofia da UFRJ
Postado em Filosofia no Vestibular em 11/11/2007 por Gustavo Bertoche
A primeira prova de Filosofia no vestibular da UFRJ foi aplicada hoje e seu gabarito já está disponível online.
Todas as questões são fáceis e dependem mais da interpretação dos textos do que de conhecimentos filosóficos específicos.
A questão 1 é relativa ao conceito de filosofia, e a resposta do item (a) está óbvia no texto. A resposta do item (b) é fácil para quem estudou um pouquinho.
A questão 2 é sobre empirismo e racionalismo. Eu tinha certeza de que cairia uma questão de identificação e definição do empirismo ou do racionalismo. Para quem estudou, é a questão mais fácil.
A questão 3 é a única cujo assunto não está evidente no programa: o tema do contrato social está implícito no item que trata da política. É uma questão puramente interpretativa. Ninguém precisaria ter jamais lido uma linha sequer de Rousseau para responder corretamente.
A questão 4 é de resolução muito fácil, especialmente para quem estudou o problema do determinismo e da liberdade. De qualquer modo, mesmo quem nunca estudou filosofia poderia responder corretamente, pois a solução para o problema está evidente no texto introdutório.
Em linhas gerais, foi uma prova que confirmou nossas expectativas: questões interpretativas envolvendo conceitos filosóficos. Um aspecto inesperado foi a ausência de questões de lógica. Contudo, essa ausência pode ser justificada pelo previsível baixo nível de preparação da maioria dos candidatos, o que fez com que a banca preparadora das questões pegasse leve.
A prova estava fácil; mesmo alunos que nunca tiveram aulas de filosofia podem vir a ter boa nota. Claro que os alunos que tiveram uma boa preparação terão notas ainda melhores.
Enfim, foi uma prova que cumpriu exatamente o que prometia: introduzir a Filosofia como conteúdo do vestibular sem causar muitos arrepios. No ano que vem, certamente a dificuldade crescerá um pouco.
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Prova de Filosofia UFRJ – Resumão do programa
Postado em Filosofia no Vestibular em 07/11/2007 por Gustavo Bertoche
 Atenção: este “resumão” de todo o conteúdo trabalhado por nós neste ano não deve ser utilizado como fonte única de estudo. Ele só deveria ser utilizado por quem já está bem preparado, com o objetivo de orientar os conteúdos gerais que poderão ser cobrados na prova UFRJ.
1. Como explicar o conceito de filosofia?
O conceito de filosofia pode ser explicado por seu objeto e por seu método. O objeto da filosofia é conceitual; a filosofia trabalha com conceitos que utilizamos no nosso dia-santo, que utilizamos nas ciências, nas artes, mas a respeito dos quais nunca pensamos. O método da filosofia é argumentativo e crítico: a filosofia é um tipo de conhecimento construído por meio do debate, do diálogo, da argumentação e que deve estar sempre aberto à reformulação.
2. Como a filosofia surgiu?
A filosofia surgiu na Grécia do século VI a.C. com homens que buscavam conhecer as coisas por meio da investigação empírica e racional, não aceitando a sabedoria da tradição como ponto de partida para o conhecimento.
3. Qual a relação entre mito e filosofia?
A filosofia nasce como uma reação contra as narrativas mitológicas que procuravam explicar todas as coisas por meio da existência e das ações dos deuses. A filosofia eventualmente utiliza-se de mitos como recurso retórico, mas busca superar a mitologia por meio da construção do conhecimento pelo trabalho argumentativo crítico.
4. Qual a diferença entre discurso narrativo, discurso poético e discurso predicativo?
O discurso narrativo tem como objetivo narrar um acontecimento factual ou mitológico. O discurso poético tem como objetivo apresentar uma visão de mundo por meio de imagens, utilizando estruturas poéticas. O discurso predicativo tem o objetivo de afirmar algo sobre alguma coisa, pôr um predicado num sujeito. O discurso mitológico é geralmente narrativo, ainda que tenha estrutura poética; os poemas são exemplos de discurso poético; e a filosofia é geralmente escrita como discurso predicativo.
5. O que é a controvérsia entre a filosofia e a sofística?
No século V a.C., o filósofo Sócrates defendia que o objetivo da filosofia era conhecer a verdade por meio da argumentação crítica. Sócrates defendia que existia uma verdade, e que para conhecê-la era necessário descobrir a própria ignorância (o que significa que a primeira tarefa da filosofia deveria ser a promoção do autoconhecimento). Sócrates também considerava que um filósofo não deveria ser pago, pois a verdade não era artigo comerciável. Contudo, os sofistas, que eram contemporâneos de Sócrates, tinham outra visão a respeito da verdade. Eles achavam que a verdade era função da argumentação: quem tinha a maior força argumentativa era o proprietário da verdade. Os sofistas eram advogados profissionais e professores de retórica, cobrando pelos seus trabalhos. Sócrates considerava que os sofistas eram charlatões, pois ensinavam os alunos a vencer os debates e não a buscar pela verdade.
6. O que significa a divisão entre dialética e retórica?
A dialética é o método filosófico: a dialética é o trabalho de chegar ao conhecimento por meio da argumentação crítica e da análise dos argumentos. A retórica é uma arte: é a arte de vencer um debate e convencer por meio da utilização de argumentos, não importando se os argumentos são bons ou maus.
7. O que é um argumento?
Um argumento é um conjunto de proposições que justificam ou sustentam uma tese. Essas proposições aparecem como premissas e conclusão. Todo argumento tem uma ou mais premissas e apenas uma conclusão.
8. O que é a verdade e a validade?
A verdade é uma propriedade das proposições. Uma proposição pode ser verdadeira ou falsa. A validade é uma propriedade dos argumentos dedutivos. Um argumento dedutivo pode ser válido ou inválido. Mas um argumento nunca pode ser verdadeiro ou falso, nem uma proposição pode ser válida ou inválida.
9. Como identificar as premissas e a conclusão de um argumento?
As premissas de um argumento são as proposições que justificam, que sustentam, que explicam, que levam até a conclusão. A conclusão é a proposição que é justificada, que é sustentada, que é explicada pelas outras proposições. A conclusão é a tese defendida pelo argumento.
10. Qual é a diferença entre um raciocínio (argumento) dedutivo e um indutivo?
Um raciocínio dedutivo é um argumento que parte de uma proposição que tem a forma de uma lei geral para chegar a uma conclusão particular retirada dessa lei geral. A dedução estabelece uma relação entre conceitos. A dedução é uma relação puramente lógica; um argumento dedutivo pode ter todas as suas proposições falsas e ainda assim ser um argumento dedutivo válido. Um argumento dedutivo pode ser válido, quando sua forma lógica é correta, ou inválido, quando sua forma lógica não é correta.
Um argumento indutivo é um argumento que parte de elementos particulares que têm origem na experiência para chegar a uma conclusão geral e conceitual. A indução estabelece uma relação entre a experiência e um conceito. A indução não é uma relação puramente lógica: ela mistura a lógica com a experiência. Por isso, um argumento indutivo não pode ser considerado válido ou inválido; ele pode ser considerado apenas mais provável ou menos provável.
11. O que é o racionalismo?
O racionalismo é uma filosofia que enfatiza o papel da razão na aquisição e na justificação do conhecimento, em detrimento da experiência sensorial e empírica. Para os racionalistas, a razão é a fonte dos conhecimentos mais perfeitos e verdadeiros, enquanto a experiência sensível tem acesso apenas a conhecimentos imperfeitos. Para os racionalistas, o ser humano já nasce com alguns conteúdos da razão – como, por exemplo, a idéia de Deus.
12. O que é o empirismo?
O empirismo é uma filosofia que enfatiza o papel da experiência na aquisição e na justificação do conhecimento, minimizando o papel da razão humana. Para os empiristas, a própria razão humana é adquirida por meio da experiência. É empirista a idéia de que o ser humano, quando nasce, é uma espécie de tabula rasa, uma folha em branco.
13. O que é o ceticismo?
O ceticismo é uma filosofia que afirma que existem limitações ao conhecimento possível. Um cético filosófico não diz que a verdade não existe ou é impossível, mas que não podemos conhecer ou fazer afirmações sobre a verdade. O ceticismo é uma filosofia contrária ao dogmatismo, que afirma que a verdade é conhecida e que não há possibilidade de discussão sobre ela. O ceticismo não deve ser confundido com o relativismo, que afirma que a verdade é relativa, nem com o niilismo, que afirma que não há verdade.
14. Qual a relação entre criação artística e conhecimento científico?
A arte e a ciência têm algo em comum: ambas pretendem ser um meio de o ser humano compreender e agir, ordenando e tornando inteligível o mundo. Contudo, a ciência é feita a partir do método empírico e busca, por meio da razão e da experiência controlada, encontrar a verdade sobre a natureza. Já a arte não tem um método específico, mas vários métodos diferentes, e não visa necessariamente encontrar qualquer verdade.
15. O que é a questão da universalidade do belo?
A questão da universalidade do belo é o problema de saber se a beleza é um conceito universal e se algo considerado belo em determinada cultura e época será também considerado belo em outra cultura e época. O problema questiona se a beleza é uma característica objetiva da obra de arte (ou seja, se a beleza existe independentemente da perspectiva histórica e cultural do observador) ou se a beleza é subjetiva (ou seja, se a beleza está nos olhos de quem vê a obra de arte).
 
16. Quais as principais teorias estéticas que explicam a obra de arte?
16.a) A teoria da arte como imitação
A teoria da arte como imitação afirma que uma obra só é arte se imita algo, e será tanto melhor obra de arte quanto mais perfeita for a imitação.
16.b) A teoria da arte como expressão
A teoria da arte como expressão afirma que uma obra só é arte se exprime um sentimento do artista, e será tanto melhor obra de arte quanto melhor e mais profundamente exprimir esse sentimento.
16.c) A teoria formalista da arte
A teoria formalista da arte afirma que a obra de arte tem uma forma significante que provoca nos observadores emoções estéticas. Contudo, a beleza não está “nos olhos de quem vê”, mas na forma da obra de arte.
17. O que significa causalidade?
A causalidade é a idéia de que todo efeito tem necessariamente uma causa.
18. O que significa determinismo?
O determinismo é a idéia de que quando se conhece todas as condições iniciais de um sistema, pode-se prever o desenvolvimento futuro desse mesmo sistema.
19. Por que a idéia de determinismo impõe um problema para a compreensão da liberdade humana?
Porque se o determinismo for verdadeiro, então poderia ser previsto o comportamento das pessoas diante de determinadas condições. Contudo, se é possível prever o comportamento de uma pessoa, então essa pessoa não é livre, pois seu comportamento já estava determinado.
20. Qual é a diferença entre ética e moral?
A moral é a consideração do que é bem ou mal. A ética é o estudo das teorias que vão explicar a moral. A moral é a prática, a ética é a teoria.
21. Quais as principais teorias éticas usadas cotidianamente?
21.a) O relativismo moral
O relativismo moral é a teoria que afirma que as afirmações morais (isso é bom, aquilo é mau) são relativas à cultura. Para o relativista moral, não existe algo objetivamente bom ou mau; o relativista moral afirma que algo considerado mau em determinada cultura pode ser considerado bom em outra cultura. O relativista moral tende a considerar que “bom” é aquilo que é socialmente aprovado e “mau” é aquilo que é socialmente desaprovado em determinada cultura.
21.b) O absolutismo moral
O absolutismo moral é a teoria que afirma que existem valores morais objetivos. Para o absolutista moral, uma ação é boa ou má, independentemente da cultura à qual o agente pertença. O absolutista moral parte de princípios éticos definidos e deles deduz suas proposições morais.
21.c) O utilitarismo
O utilitarismo é a teoria que afirma que deve-se buscar maximizar os benefícios e minimizar os malefícios para a maior quantidade de pessoas. O utilitarista faz uma espécie de cálculo ético para chegar à conclusão de que uma ação é boa (a que maximiza os benefícios e minimiza os malefícios) e outra é má (a que não maximiza os benefícios e/ou não minimiza os malefícios).
22. Qual a diferença entre Estado, sociedade e poder?
Estado é uma organização social, política e jurídica de um povo que tem estrutura administrativa e governo próprio, com soberania sobre um determinado território. O Estado é produto das vontades individuais do povo e é onde essas vontades individuais podem ser realizadas. Sociedade é uma associação de indivíduos que repousa sobre um contrato social e cujos laços de reciprocidade instituem uma ordem econômica ou política. O poder é a capacidade de se mobilizar forças econômicas, sociais ou políticas para obter um certo resultado. Alguns filósofos (como Foucault) afirmam que todas as relações entre o Estado e os indivíduos e todas as relações sociais são relações de poder: o poder fundamental não é exercido por indivíduos, mas encontra-se disperso, como um aspecto impessoal da sociedade, e manifesta-se em particular sob a forma de vigilância, regulação ou disciplina, que adaptam os seres humanos à estrutura social envolvente. O poder da sociedade não se encontra limitado à sua capacidade de impedir as pessoas de fazerem coisas; inclui o controle da autodefinição e da forma de vida preferida dos seus membros.
23. Quais as concepções mais comuns de cidadania?
23.a) A social-democrata
A concepção social-democrata de cidadania visa garantir direitos civis, políticos e sociais a todos por meio do estado-providência.
23.b) A conservadora
A concepção conservadora de cidadania visa garantir o máximo de liberdade individual e autonomia para os cidadãos, diminuindo a capacidade do Estado interferir na vida privada de cada um.
23.c) A teoria da sociedade civil
A concepção dos defensores da teoria da sociedade civil centra sua atenção no modo como aprendemos a ser cidadãos responsáveis. Para eles, aprendemos a ser cidadãos participando de organizações civis.
23.d) A teoria liberal
A concepção liberal da cidadania enfatiza a necessidade de os cidadãos serem capazes de argumentar publicamente. Os cidadãos precisam dar razões para suas exigências políticas, e não apenas exprimir preferências ou fazer ameaças.
23.e) A teoria republicana
A concepção dos republicanos cívicos defende que os cidadãos responsáveis devem ter na participação política sua ênfase, e a vida política deve ser colocada à frente das outras atividades.
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A filosofia nas suas origens: do mito aos sofistas
Postado em Filosofia no Vestibular, Notas de Aula, Questão 01: O que é a filosofia? em 28/08/2007 por Gustavo Bertoche
Na semana passada, alguns alunos solicitaram que eu escrevesse alguma introdução bem simples explicando os filósofos pré-socráticos, Sócrates, os sofistas…
Decidi preparar um textinho que aborda três itens do programa de filosofia do vestibular da UFRJ: mito e filosofia; filosofia e sofística; retórica e dialética. Segue o texto.
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DO MITO AOS SOFISTAS
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Mito e filosofia
Para compreender o processo intelectual que resulta na filosofia contemporânea é necessário conhecer a origem da filosofia.
O contexto histórico do surgimento da filosofia é a Grécia do século VII a.C. Naquele tempo, as cidades gregas conheceram um período de expansão econômica, militar e geográfica. Foram fundadas inúmeras colônias gregas na Europa e na Ásia Menor.
Até o século VII a.C., o contexto cultural do homem grego era dado pelas grandes narrativas míticas e poéticas de Homero, nas quais deuses e homens interagiam em confrontos e amores. Embora a idéia da interação de homens com deuses seja estranha a nós, que vivemos na cultura cristã, na época chamada homérica isso era muito normal. A explicação é que os gregos tinham então uma concepção naturalista a respeito de todas as coisas do mundo; tanto os homens quanto os deuses eram seres naturais e, portanto, podiam relacionar-se. (Só para lembrar, a concepção cristã é diferente: pressupõe um Deus que cria a natureza, mas não faz parte dela).
Talvez muitos de vocês pensem que a mitologia grega seja parte da filosofia. Essa é uma idéia bem difundida, mas que está errada. Para entender o porquê, é preciso compreender como o mundo grego das narrativas homéricas transformou-se no mundo grego da filosofia.
A partir da expansão grega, alguns fenômenos intelectuais começaram a acontecer. Nas cidades, instituiu-se a ágora, que era a praça pública onde os cidadãos encontravam-se para conversar, fazer política e fechar negócios. No campo político, surgem as primeiras legislações. Na arte, aparece o teatro.
Nas colônias gregas, os homens tinham contato com viajantes de várias partes do mundo conhecido. Assim, muitos gregos puderam conhecer a matemática, a astronomia, a geometria. E alguns desses gregos começaram a investigar a natureza. Natureza, aqui, não significa mato, bichinho, floresta: significa a totalidade das coisas físicas. Aliás, a palavra física vem do grego phisis, que significa exatamente natureza (no sentido bem amplo a que nos referimos).
Mas o que estes primeiros “físicos” buscavam? Inicialmente, duas coisas: em primeiro lugar, saber a constituição fundamental das coisas da natureza; em segundo lugar, saber como a natureza veio a ser o que é – ou, em outras palavras, como o universo, o cosmo, surgiu.
O ponto de vista tradicional sobre o surgimento da natureza antes desses primeiros “físicos” era mítico; por isso, eles fizeram uma verdadeira revolução quando começaram a procurar as respostas para suas questões não nos mitos, mas naquilo que podiam conhecer a partir da sua própria experiência.
Essa foi a grande revolução da filosofia no século VII a.C.: os primeiros “físicos” (que eram simultaneamente os primeiros “filósofos”, ou, como é comum chamá-los, os “filósofos pré-socráticos”) recusaram os mitos na busca pela explicação a respeito do surgimento e da constituição da natureza. Eles preferiram confiar em sua razão. Por isso, podemos afirmar que a filosofia e a ciência são a tentativa do ser humano de rejeitar o mito. O mito não é uma parte da filosofia; pode-se dizer mesmo que a filosofia faz-se contra o mito, que a filosofia é uma recusa do mito.
Filósofos pré-socráticos
Falei no parágrafo acima a respeito de “filósofos pré-socráticos”. Provavelmente muitos alunos já sabem que os filósofos pré-socráticos foram aqueles filósofos que nasceram antes de Sócrates. Mas isso não basta. É necessário saber minimamente quem foi Sócrates e o motivo pelo qual foi tão importante que criou uma divisão na filosofia: antes de Sócrates / depois de Sócrates.
Eu já disse que os primeiros filósofos (entre o século VII e V a.C.) investigavam dois problemas a respeito da natureza: em primeiro lugar, investigavam a constituição fundamental das coisas; em segundo lugar, investigavam como a natureza havia surgido.
Sócrates (que viveu no século V, que é considerado o século de ouro da Grécia e, especialmente, de Atenas, sua cidade) é um filósofo muito importante porque ele percebeu que, antes de investigar a natureza, era necessário investigar o próprio ser humano – afinal, a natureza só é investigada porque há alguém para investigá-la, e parece sensato estudar este alguém antes de partir para a investigação das coisas externas.
A maior preocupação de Sócrates era, de fato, mostrar que o autoconhecimento é o que há de mais importante na vida de uma pessoa. E o primeiro conhecimento deve ser a consciência da própria ignorância. É por isso que Sócrates profere sua mais célebre frase: “só sei que nada sei”. Reconhecendo sua falta de sabedoria, Sócrates podia dedicar-se a tentar obtê-la; e o desejo de obter a sabedoria que reconhece não possuir faz dele, paradoxalmente, o homem mais sábio.
A filosofia posterior a Sócrates, incluindo a filosofia praticada em nosso tempo, é socrática porque, à semelhança do filósofo de Atenas, não se contenta em investigar as coisas como elas são (como faziam os filósofos antes dele, os “pré-socráticos”), mas procura compreender como nós entendemos as coisas do modo que as entendemos. Além disso, Sócrates foi um dos primeiros a compreender a importância da discussão quando se pretende chegar à verdade – e toda a filosofia subsequente aproveitará o método dialético na busca pelo conhecimento. A partir de Sócrates, fica claro que o conhecimento filosófico não é produto do acordo, mas da polêmica dialogada entre iguais.
Os sofistas
Referi-me ao método dialético no parágrafo acima. Para poder explicar o que é isso, é necessário antes apresentar um conjunto de sábios que participava da vida de Atenas e de várias outras cidades na época de Sócrates: os sofistas. Eu disse “conjunto de sábios”, mas essa expressão pode ser duplamente enganadora. Em primeiro lugar, não era um verdadeiro conjunto, pois os sofistas eram homens bem diferentes entre si, e seus ensinamentos não eram semelhantes. Muitas vezes, aliás, eles eram adversários uns dos outros. Em segundo lugar, muitos não considerariam os sofistas como sábios, pois os filósofos da Antiguidade tinham a tendência de considerar os sofistas como enganadores e manipuladores.
Por que, então, eu afirmei que eles eram um “conjunto de sábios”? Vamos ver primeiro em que sentido os sofistas podem ser considerados sábios.
Os sofistas eram homens oriundos de várias cidades e colônias gregas que viviam viajando de pólis em pólis oferecendo o uso e o ensino de suas habilidades. As habilidades dos sofistas eram relacionadas à capacidade de convencer. Os sofistas, portanto, ofereciam seus serviços na defesa e na acusação em julgamentos, sendo os primeiros advogados profissionais; e, com a fama que eventualmente ganhavam, podiam cobrar (bem caro, aliás) para ensinar a jovens a arte de vencer disputas argumentativas, transformando-se assim nos primeiros professores de retórica. Lembre-se de que nas democracias gregas a capacidade de discursar e de convencer era considerada o melhor meio de ascender social e politicamente.
Era devido à habilidade de defender igualmente bem duas teses diferentes e mesmo opostas, independentemente de qual fosse a tese verdadeira e de qual fosse a falsa, que os sofistas foram desprezados pelos filósofos – que, ao contrário dos sofistas, procuravam argumentos para encontrar a verdade e escapar ao erro. Por outro lado, justamente a facilidade de defender qualquer ponto de vista fazia com que os sofistas fossem muitas vezes considerados sábios, e é por isso que eu afirmei acima que eles o eram.
Finalmente, os sofistas podem ser estudados como um conjunto porque todos eles praticavam, embora cada um a seu modo, a argumentação como forma de vencer uma disputa, não importando onde estivesse a verdade. Aliás, a própria noção de verdade era relativa à força da argumentação: em última análise, a posição mais fortemente defendida seria a posição verdadeira. Eis outro motivo que levava os filósofos, que amavam a verdade (compreendida como algo que é independente da força dos argumentos, mas que existe independente da vontade das pessoas), a detestarem os sofistas.
A retórica e a dialética
Agora finalmente podemos compreender o que é o método dialético, questão que levantamos mais acima. Dialética é um método filosófico: é a busca pela verdade por meio da análise cuidadosa dos argumentos. A dialética não era praticada pelos sofistas, pois a dialética procura pela verdade, e os sofistas apenas defendem uma posição pré-determinada.
Os sofistas não usavam a dialética: usavam a retórica. A retórica é o bom uso dos argumentos para defender uma posição. Esses argumentos, inclusive, podem ser maus argumentos, podem ser argumentos que não têm valor lógico mas que têm capacidade de convencimento; a esses argumentos enganadores, aparentemente sólidos mas na verdade falhos, os filósofos passaram a chamar “sofismas”. Isso vem bem a calhar, pois os sofistas não tinham pudores de usar argumentos falhos, desde que isso os ajudasse a defender seu objetivo.
Percebemos então que dialética e retórica são dois tipos de utilização da argumentação. A dialética é o tipo de argumentação filosófica, e visa o conhecimento e a verdade. A retórica é o tipo de argumentação dos sofistas (e, por conseqüência, dos advogados), e visa o convencimento e a vitória no debate. Aliás, a retórica é muitas vezes considerada uma arte: a arte de convencer.
Podemos dizer então que o que define a filosofia, desde seu início no século VII a.C. com os filósofos pré-socráticos, é a busca pelo conhecimento – uma busca que não é empreendida a partir de mitos nem é realizada com o objetivo simplesmente de convencer. O conhecimento almejado pela filosofia é o conhecimento que o ser humano pode alcançar por meio de seus próprios esforços racionais.
O conhecimento verdadeiro atingido pela razão humana é o objetivo da filosofia desde a Grécia antiga; contudo, os problemas filosóficos sofreram inúmeras e enormes modificações desde então, os métodos disponíveis hoje são muito mais poderosos do que eram no tempo de Sócrates, e as respostas são bem mais complexas do que aquelas dadas na Antiguidade. Ainda assim, a filosofia segue, durante a história, um fio condutor contínuo. Não seria possível compreender o que é a filosofia hoje e o que os filósofos de hoje fazem sem entender o que os primeiros filósofos faziam na origem da filosofia.
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Filosofia no vestibular da UFRJ
Postado em Filosofia no Vestibular em 23/08/2007 por Gustavo Bertoche
Como vocês sabem, o vestibular 2008 da UFRJ tem prova de Filosofia para os concorrentes aos cursos de Direito, História, Ciências Sociais, Filosofia e Música.
A prova de Filosofia será inespecífica e constará de quatro questões. A nota máxima que um vestibulando da UFRJ pode alcançar é 60.0, e o peso da Filosofia parece pequeno: em valores absolutos, cada questão vale 0.5 ponto, o que significa que a prova vale 2.0 pontos em 60.0.
Dois pontos que, todavia, podem significar a diferença entre passar no vestibular ou não passar.
Nesta primeira experiência com Filosofia no vestibular, a UFRJ não vai pegar pesado. Não serão cobradas questões sobre História da Filosofia, por exemplo.
As questões certamente apresentarão um mix de problemas interpretativos, problemas de compreensão de conceitos filosóficos e problemas de Lógica.
A interpretação de textos filosóficos requer duas habilidades: em primeiro lugar, é necessário saber interpretar textos, o que vocês aprenderam a fazer desde o ensino primário; em segundo lugar, é necessário conhecer conceitos filosóficos específicos utilizados nos textos.
Para conhecer conceitos filosóficos, não há outra saída senão assistir a aulas de Filosofia ou ler bons livros de Introdução à Filosofia.
Para saber resolver exercícios de Lógica, é necessário, além de bom-senso, conhecer minimamente alguns termos e algumas regras, além de ter feito exercícios. Por sorte, a Lógica exigida na prova da UFRJ é muito elementar: é necessário apenas saber trabalhar premissas e conclusão em argumentos dedutivos e indutivos.